Quando alguém passa anos em um lugar, compartilhando momentos, interagindo e fazendo parte daquele ambiente, é de se esperar um mínimo de maturidade, não é? Afinal, ao decidir partir para outro lugar, será que não houve também momentos bons pelos quais ser grato? Ou será que, por causa de uma decepção ou de alguém, essa pessoa acaba generalizando e pintando tudo com cores escuras, como se nunca tivesse recebido nada de bom?
É triste quando alguém deixa um lugar com o coração amargurado, falando apenas de negatividade e desvalorizando tudo o que viveu ali. Parece que esquece dos sorrisos compartilhados, dos gestos de amizade, dos pequenos detalhes que fizeram parte da jornada. Ao generalizar e pintar todos do mesmo jeito, essa pessoa revela uma ingratidão profunda, como se nada do que recebeu tivesse importância.
É importante seguir em frente, é verdade. Mas será que precisamos fechar as portas com tanta força? Afinal, ninguém sabe o que o amanhã reserva. Falar mal do passado, sem reconhecer o bem que também recebemos, é um ato de egoísmo e ingratidão. Quem parte assim, só deixando críticas e mágoas para trás, acaba colhendo o mesmo tipo de energia onde quer que vá. É como se carregasse consigo uma nuvem escura que não se dissipa.
Então, que tal partir com um pouco mais de leveza no coração? Reconhecer os bons momentos, agradecer pelo que foi vivido e deixar as portas entreabertas para o que o futuro possa trazer.
Quem sabe assim não conseguimos transformar até mesmo as despedidas em algo mais suave e cheio de gratidão.
Quem fecha portas movido por mágoas e por uma visão excessivamente negativa, muitas vezes esquece que também cometeu erros em algum momento. Ao se recusar a curar as feridas e a tomar decisões com base no próprio coração, acabam por se prender em um ciclo de dor e ressentimento. Sob o peso das mágoas, as escolhas nunca são verdadeiramente sábias e seguras.
O padrão de comportamento se repete, mesmo em um novo ambiente, pois o problema reside na mentalidade e nas emoções não resolvidas.
É como se estivessem fugindo de sombras que os perseguem, sem perceber que carregam essas sombras consigo para onde quer que vão. Acreditam que a mudança de lugar trará uma nova luz, mas acabam por descobrir que a escuridão persiste dentro de si.
É crucial permitir-se curar, abrir o coração para a possibilidade de perdão, tanto para os outros quanto para si mesmo. Somente então as escolhas podem ser feitas com clareza e autenticidade, guiadas pela luz da compreensão e da aceitação.
Às vezes, só depois de um tempo é que percebemos que o que parecia ser o problema no ambiente anterior, na verdade, estava dentro de nós. Fugir de um lugar para escapar dos próprios conflitos internos apenas os traz de volta de uma forma diferente, em um ciclo sem fim.
Portanto, que possamos aprender a enfrentar nossas dores de frente, a curar nossas feridas e a tomar decisões com base no amor e na compaixão, em vez do medo e da amargura. Só assim poderemos verdadeiramente abrir portas para um futuro mais luminoso e cheio de possibilidades. Assim se amadureceu emocionalmente também, prontos para o verdadeiro crescimento e a real constância, alicerçados em sentimentos honrosos e não sob a muleta dos ressentimentos nem de mágoas que cegam a escolhas sóbrias.
By Michele da Silva
Psicanalista Clínico/Terapeuta/Coach (PNL)
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